sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Era uma vez 31 - Vive la France!!! (Diário da Mirys)

Todo mundo foi me levar para o aeroporto, no dia 31 de agosto de 1997. Era um grandissíssimo evento, naquela época, quando um filho ia passar um ano fora! Então, meus pais alugaram uma mini van e lá fomos todos nós: pai + mãe + eu + 9 irmãos + Fer. Tenho fotos deste dia guardadas até hoje!... Claro que o aeroporto de Guarulhos nunca viu chororô igual àquele!!! Era a primeira filha que partia naquela família enorme, a irmã mais velha, a namorada/noiva. E todo mundo chorava. Muito!!!!

Eu e o Fer fizemos mil promessas, de escrever sempre, de ligar pelo menos 1 vez por mês cada um, de não ficarmos com outras pessoas. Mas, a gente sabia que seria difícil manter “nós dois” intactos por um ano. Não tinha celular, na época. Nem promoções para ligações internacionais. Nem a internet era o que é hoje. Eu nem tinha e-mail!!! Mas a gente prometeu, prometeu, prometeu. E chorou...

Depois da sala de embarque, encontrei com outras 3 garotas que viajariam comigo. Cada uma no seu momento de vida, cada uma por razões diferentes, mas todas as 4 viajando sozinhas, sem conhecer ninguém (nem a gente se conhecia!), sem saber francês fluente, cheias de expectativas. Quando fomos entrar no avião, achamos uma “janelinha” no corredor que leva até a aeronave e dava pra ver as janelas do aeroporto. Paramos eu e a Bic pra acenar pra família dela – toda no 3º andar, bem na altura da janela do avião, onde dava pra ver perfeitamente, junto com vários outros estranhos acenando também. Famílias de outras pessoas.

Eu: “É Bic... vamos. Que eu acho que a minha família já foi embora...”
Bic: “Vamos. PERAÍ!!! Mirys, olha ali! No andar de baixo!!! Não é a sua família????”

Só podia ser! 12 pessoas acenavam alucinadamente para o avião, mandavam beijos, falavam “tchau” por leitura labial, pulavam para serem vistas. Era a minha família!!!! E, no cantinho, tinha um moço magrinho, com uma das mãos apoiadas no vidro, só me olhando... Não falava, não mandava beijo, não pulava. Mas ele estava ali, me observando.

Eu descobri a vida daquelas outras 3 meninas, durante as várias horas de vôo. Uma tinha acabado de terminar o colegial e tinha perdido o pai – ia tentar uma vida longe e decidir qual profissão teria. Uma tinha terminado a faculdade e era fashion o suficiente para saber tudo de Paris e ter o sonho de morar lá – ia tentar uma vida única. Uma trabalhava numa biblioteca, era filha de um víuvo de muito tempo e tia de uma garotinha que tinha acabado de nascer - ia tentar uma vida com mais oportunidades. E eu! Incrível como as pessoas são diferentes e, mesmo assim, se encontram, não é? Então, fizemos nossas apostas, com base naquilo que conversamos no avião. 2 a gente tinha certeza de que voltariam para o Brasil, depois de um ano; 1 talvez voltasse, talvez não voltasse, talvez fosse morar em outro país; 1 não voltaria. Certeza. Eu era essa última, nas apostas das meninas. (PS: de todas, eu fui a única que voltou, depois de um ano! Há! A vida dá suas voltas...)

Chegando no aeroporto de Paris, pegamos nossas malas e... sentamos no chão! As 4! Umas choravam, outras estavam em transe. Mas nenhuma, nenhuma queria atravessar aquela portinha do desembarque!!! Porque, daí, seria oficial: uma vida nova começaria! Com gente que a gente nunca tinha visto antes, com comidas que a gente nunca tinha provado, numa língua que a gente não dominava, numa cidade que a gente não conhecia, sem recursos para ligar e gritar por socorro! Isso dá um embrulho no estomago... Mas, daí, uma de nós se levantou e disse: “a gente já veio até aqui, mesmo!”. Era verdade. E eu atravessei a porta e vi as duas crianças mais loiras da minha vida segurando uma plaquinha com o meu nome: “Mirrrriane”.

Passei um mês tendo dores de cabeça diárias! Porque estudar uma língua qualquer, duas vezes por semana, durante uma hora, é fácil, é simples, é bacana, a cabeça assimila. Agora, quando você precisa conversar com duas crianças EM FRANCÊS, comprar sua própria comida EM FRANCÊS, pedir para ir no banheiro EM FRANCÊS, assistir tv EM FRANCÊS, pedir uma direção na rua EM FRANCÊS, escutar música no rádio EM FRANCES, ir no cinema ver um filme do Tom Cruise EM FRANCÊS, a sua cabeça doi. Muito! (PS: os filmes são quase 100% dublados na França e em outros países da Europa. Acho uma idiotice, mas...) (PS2: prefiro miiiiiiiiiiiil vezes o Tom Cruise – amo, amo, amo! – com a voz dele, mesmo! Em francês, alemão ou espanhol fica ridículo! #prontofalei!)

No final daquele primeiro mês, eu tive uma briga com o Pierre (menininho de quem eu cuidava que, na verdade, era adorável! Mas, naquele dia, estava dificílimo). Por causa de um catchup. Foi horrível, horrível, horrível. Me senti incapaz de cuidar de crianças (isso porque eu sou a mais velha de 10! DEZ, people!!! Não é pouca gente, não!...). Me senti incapaz de me comunicar. Me senti incapaz de ficar aquele ano todo ali. Deu saudade... E eu chorei, e reclamei com o travesseiro, e briguei sozinha, e esbravejei. EM PORTUGUÊS. Ah!... Que alívio!!!! E liguei pro Brasil. Falei com o meu pai, que me acalmou. Falei com a minha mãe, que me incentivou. Não aguentei, gastei o meu salário do mês, e liguei para o Fer. Ouvi a voz dele e me acalmei.

Decidi que, dali pra frente, ia ser diferente! Eu SÓ tinha um ano em Paris! Não ia perder meu precioso tempo com coisas irrelevantes! Eu ia aprender, ia passear com as crianças, ia me familiarizar com o lugar, ia me inserir no contexto, ia VIVER em Paris. Ponto!

Com 4 meses morando lá, eu tive meu primeiro sonho em francês! Que conquista!!!! Naquela altura do campeonato, eu já falava tranquilamente a língua. Até com as minhas amigas brasileiras (apesar da vergonha). A gente se comunicava: não importava a língua. Mas, sonhar? Ah, sonhar é diferente! É incontrolável, não dá pra comandar. Então, quando eu acordei naquele dia de dezembro, tive uma ótima sensação de “ahá! Agora vai!!!”.

Mas, eu ainda teria que ficar ali por mais 8 meses... e o Natal chegava... a saudade apertava... e eu não tinha dinheiro pra voltar pro Brasil. Só que o Natal é uma festa de ficar perto de quem se gosta, de ganhar abraços e beijos...

Enquanto isso, no Brasil....

Cenas do próximo capítulo aqui.

OS: naquele dia 31 de agosto de 1997, a princesa Diana foi perseguida por fotógrafos, em Paris e acabou morrendo. Eu cheguei na cidade, no dia seguinte. Era impressionante e tocante ver o modo como pessoas do mundo todo, em pouquíssimo tempo, inundaram as ruas de Paris e deixaram inúmeras flores, mensagens e cartas para ela, no monumento que existe bem em cima do túnel onde ela veio a falecer. Algumas pessoas realmente deixam uma marca boa no mundo, não?

7 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, que barra que você enfrentou, não sei se teria sido capaz de tamanha façanha se estivesse no seu lugar...

Anônimo disse...

E a princesa Diana foi mesmo um espírito de luz que passou por aqui e deixou muitas saudades. Muitos lembram dela até hoje.

Carolzinha disse...

Mirys!!!hehe

Vc bem q podia colocar umas fotos desse dia neh!??!?

Bjusss
Amo esse blog...eh viciante!!

Anônimo disse...

Mirys,
algum dia o Fer comentou com vc como ela se sentiu no momento da sua viagem? Ele falou que te esperava, mas como no fundo ele se sentia, algum dia ele comentou?
Bj,

Debby disse...

OI Myris.. lembro bem desse dia... meu aniversário... que desde 2001 não comemoro..!

Estou adorando....
Bjs
Debby :)

Sheila Mendes disse...

Oi Mirys, tudo bem?
Estou adorando a série e conhecer um pouco mais sobre você.
Quantos anos vc tinha nesta época???
Bjos.

Rafaella disse...

Eu acho o frances tão esquisito, tão feio na pronuncia, imagina tudo em frances??? não da!!! rsrsrs...
Não é a toa sua dor de cabeça...
Bjs