(Se prepara que essa é longa. Mas vale a pena!!!)
Em 30 dias, terminei meus trabalhos pendentes, arrumei malas, guardei dinheiro, renovei passaporte, organizei casa + crianças + escola + carro, e parti para o aeroporto internacional de Guarulhos!!! Da última vez que eu tinha estado lá, tinha ido chorando (muito por dentro, só um pouquinho por fora). Eu ia realizar o meu plano com o Fernando de levar as crianças para ver a cidade onde eu tinha morado (Paris)... mas eu ia realizar sozinha. Tudo o que foi dele, comigo, foi a certidão de óbito, o boletim de ocorrência e o nome dele na certidão de nascimento dos pequenos. Sem essa “companhia agradável”, eu não podia tirar meus filhos do País e leva-los pra passear. Vou te contar, viu? Ninguém merece....
Mas, agora, eu voava sozinha!!!!
Por um lado, eu estava petrificada! Eu sempre amei viajar. De avião, então!!! Tem coisa mais gostosa do que dormir num lugar e acordar em outro, cheio de expectativas pra ver paisagens diferentes, comer comidas diferentes, ouvir línguas diferentes??? Mas... viajar sozinha era um RISCO GRANDE DEMAIS e eu tinha aprendido a não correr NENHUM RISCO, nos anos de viuvez. COM as crianças, eu ia pra qualquer lugar! Se algo acontecesse, estaríamos juntos. Mas SEM as crianças... E se eu não voltasse? Eles já não tinham pai! Eu não queria correr nenhum risco de deixa-los sem mãe, também... (desculpem a neura, mas quando você fica viúva com 35 anos, você tem neuras inexplicáveis para pessoas normais...)
Por outro lado, era a primeira vez que eu ficava sozinha, totalmente, desde o acidente! 20 meses depois, longos 600 e tantos dias, eu ia ficar, finalmente, sem ninguém conhecido por perto! Podia chorar, podia rir, podia dançar no meio da rua e ninguém ia falar “que absurdo, ela chorando desse tanto depois de tanto tempo” ou “que absurdo, ela rindo desse tanto depois de tão pouco tempo”... Era a minha chance de ser SÓ a Miriane. Não a mãe do Guilherme. Não a mãe da Helena. Não a filha do médico ou da regente do coral. Não... lá eu seria só eu mesma! Eu podia me apresentar como Miriane, a advogada, mas também poderia ser Miroca - a prima da noiva, Miriane – a advogada, Mi – a brasileira (claro que ninguém ia conseguir falar Mi-ri-a-ne, assim certinho, na Alemanha) ou como Mirys – a fotógrafa! Se eu quisesse mudar até o meu nome, eu podia!!! Eu podia me apresentar como Laura, Carol, Luísa, Ana, Ernestina que NINGUÉM iria saber. Ah.... o doce gosto da liberdade....
Chegando em solo alemão, sã e salva (e livre da 1ª parte das minhas neuras de morrer no vôo – porque ainda teria a volta), eu só pensei na parte boa! Desci do avião conversando com um grego super simpático (que estava indo CASAR com uma alemã! Foca, people! Foca! Eu não ia beijar o primeiro que aparecesse no avião! Kkk) e a minha trupe já me esperava, com flores, papel com meu nome e muitos gritinhos. “Quem é esse?????”
Eu teria duas semanas na Europa: uma semana com a minha família, conhecendo a Alemanha; no sábado, o casamento; dali eu partia sozinha, para uma viagem minha comigo mesma. A primeira semana foi incrível, vi lugares bárbaros, me apaixonei por um país que nunca tinha pensado em conhecer (tem alguns flashes da viagem aqui, aqui, aqui e aqui). Falei horrooooooores em inglês (amo!), tirei inúmeras fotos (eu e meus tios brincamos de ter um curso de fotografia, “ao vivo”, durante as viagens, porque eles já acompanhavam as “dicas de fotografia” aqui do blog. Muito fofo, esse meu povo!). Mas quase não vi homens morenos na Alemanha.... e os loiros que me desculpem (gosto é gosto e não se discute), mas são os morenos que me atraem. E eu nem lembrei dessa parte minha, que continuava escondidinha láááá no fundo do baú...
E na sexta, dia do casamento civil, eu tinha um vestido lindo novo alemão (baratérrimo, da C&A de lá) pra usar, tinha tempo pra me arrumar (não tinha que vestir duas crianças), tinha um ar leve. E lá fomos nós pro cartório. A moça que ia fazer a tradução pro inglês, ficou na mesa, ao lado do cartorário, que falava em alemão. Eu fiquei do lado dos meus tios, pra traduzir pro português. Qual era o problema? Eu já tinha ido em váááários casamentos DEPOIS de ter ficado viúva. Eu aguentava, eu sabia. Então, o alemão falava, a alemã falava (em inglês) e eu falava. Lindo. Tranquilo. Sussa. Até que... chegou naquela abençoada parte do “pra sempre”, do “todos os dias da vida”, do “até que a morte os separe”. Eu engoli em seco....
Era verdade, eu já tinha ido a um monte de casamentos. Mas eu SEMPRE me entretinha com outras coisas, quando chegava nessa parte. Eu cuidava das crianças, eu ensinava o Guigo a fazer uma foto das velas acessas nos arranjos, eu arrumava o cabelo da Nina, eu saia de mim. Só que, agora, eu tinha que traduzir o casamento! Eu tinha que ouvir e entender, em inglês, e falar e entender, de novo, em português. Eu tinha que prestar atenção DUAS VEZES em cada uma daquelas frases das quais eu tanto fugia!!! E eu tinha que fazer tudo isso sorrindo, para que ninguém pensasse que eu não estava feliz pela minha prima. Porque eu estava feliz por ela. Muito feliz! Mas eu estava destroçada, por mim mesma.... E o esforço para se conciliar duas coisas tão intensas e tão diferentes era muito grande!
Acabada a cerimônia, nós fomos almoçar e eu sinto que eu só consegui voltar a respirar umas 5hs da tarde, quando tudo já se encerrava e todos começavam a se preparar para o dia seguinte (cerimônia religiosa e festa). Eu fui caminhando com os meus tios, da casa dos pais do noivo até a casa onde estávamos hospedados, peguei minha bolsa e saí: “gente, vou no correio e já volto!”. Não tinha mais correio naquela hora... todo mundo sabia disso...
Então, eu vaguei sem rumo por uma hora, talvez duas. Eu andava e andava, numa cidade minúscula de 3 mil habitantes (se tiver!), evitando uma meia dúzia de ruas, onde estavam as casas que poderiam ter pessoas que me conhecessem. Eu chorei até não poder mais! Eu senti tudo de novo, ali. Eu revi um filme. Eu chorei e orei e pedi muuuuito por aquele casamento e pelo casamento de todo mundo que eu conhecia. Que ninguém mais passasse por aquilo que eu passava! Porque era triste demais, difícil demais, intenso demais....
Quando eu voltei pra casa, minha tia (que também tinha ficado viúva, um ano antes de mim), me pegou pela mão e disse: “vamos comigo? Porque EU quero dar uma volta.” Ela era alguém que me entendia, que sofria a mesma dor, que vivia o mesmo dilema, que estava na mesma situação. E foi tão reconfortante conversar com alguém que me entendesse 100%...
Nós duas andamos por mais umas horas, até as pernas não aguentarem. E chegamos a seguinte conclusão: chega! Já tinha dado! Já tinha sido tempo suficiente pra mim! Eu tinha cuidado das crianças, do trabalho, da casa, dos meus sogros, tinha dedicado tempo aos meus irmãos, aos meus amigos, ao voluntariado...era tempo de cuidar DE MIM! E de namorar, de novo. Ela sabia que eu não sabia nem como começar, que eu não conseguia manter um olhar, que eu não conseguia responder a uma investida, que eu não tinha o menor ânimo de me arrumar e sair. Mas, me incentivou a PRATICAR! Eu decidi que aquela ia ser a minha palavra de ordem, dali pra frente: praticar!!!!
Eu ia olhar, mesmo que desse vontade de chorar. Eu ia conversar, mesmo que me sentisse culpada (porque me sentia casada). Ninguém ia saber o que eu tinha por dentro se eu estivesse sorrindo por fora. Então, eu ia responder recados, aceitar convites, sair de casa. Eu IA. E ponto final!
Mas é incrível o que pouco tempo e minha personalidade fazem comigo... na manhã seguinte, eu já estava COMPLETAMENTE envolvida com o casamento religioso. Eu só me preocupava em fotografar a noiva, a família, os preparativos, em fazer o buque (verde e amarelo – lindo!!!), em organizar as lembrancinhas “brasileiras”, em traduzir conversas alheias, em ajudar todo mundo em qualquer coisa que eles me pedissem. E pensava: “amanhã, às 6hs da manhã, eu tenho um trem pra Praga! Só eu! Então, A PARTIR DE AMANHÃ, a nova Miriane começará!...” E lá fui eu, no meio de microfones, balões, fotos e cartões para os noivos, curtir o casamento.
Às 4 e pouco da manhã, quando a festa já tinha acabado, os noivos já tinham ido, só haviam no salão umas 6 ou 7 pessoas. Exatamente 7, na verdade. Dois casais alemães, duas irlandesas e um alemão. E eu. Exausta. E ainda tinha que recolher as lembrancinhas que tinham sobrado. As irlandesas foram embora. Os casais foram dormir. O alemão ficou me ajudando. E eu constatei que EU ERA UMA LÁSTIMA COMO MULHER, mesmo!!!! Precisei esperar todas as outras almas viventes ao redor irem embora para perceber que o moço alemão estava ali, olhando pra mim, conversando comigo até o fim da festa, ajudando a recolher pacotinhos vermelhos e não era só pra ser gentil (até porque os alemães não são, assim, os mais gentis da Terra)!!!!! Afe...
Eu morri de medo, eu travei, eu comecei a falar bobagens em inglês, a ter um sotaque absurdo, a rir (de nervosa). E ele lá, impassível, como todo bom alemão. Só me ajudando. Me acompanhou (carregando a caixa com as coisas) até a porta do quarto. E... nada! Então, eu bati na porta, para minha tia abrir (eu dividia o quarto com ela), e ela não veio. E o moço se aproximou. Deixou a caixa no chão. Arrumou meu cabelo. E eu só pensei: “que bom – ele é loiro, de cabelo meio comprido e liso, do meu tamanho no máximo. Ele é diferente do Fer. Ele tem a voz diferente, o cheiro diferente, tudo diferente.” Porque era pra ser assim, mesmo, diferente!!!! Pra eu não criar expectativa nenhuma pra hora de abrir os olhos....
E então... minha tia abriu a porta!
“Oi Mirys. Desculpa. Esperou muito?”
E ela abriu os olhos direito e viu o moço ali, comigo.
“AhMiryseutovoltandodormir.Entrequandoquiser” (leia tudo rápido porque ela falou assim mesmo, encostou a porta e saiu)
Ele sorriu, sem entender nada (a gente falou português).
Eu sorri, entendendo tudo. Dele, da minha tia, de mim mesma.
E eu fui beijada...
Cenas do próximo capítulo aqui
20 comentários:
E eu achando que um novo Interlúdio mataria a minha curiosidade....
AHHHHHHHHHHHH! Estou enlouquecida!!
Mas que delícia sentir esse friozinho na barriga de um primeiro encontro, primeiro beijo, etc...
Conta mais!!!!!
bjs
Eu adoro um romance, tô amando as suas histórias
Que lindoooo...
O primeiro beijo...
Que emoção einh!!!
Bjs
Valeu muito a pena!
(ansiosa esperando os próximos capítulos - que eu sei que virão!)
Mirys!!!
Quando vai publicar seu livro???
Tá muito lindo sua história!!! Esta me dando uma força enorme. Nem imagino o que seja perder um marido porém estou numa fase bem pra baixo. Sem animo e nem estimulo. E sua história tem me ajudado. Com fé em Deus conseguiremos superar todas as barreiras né?
BJOSSSSSSSSSSS
hehehehehehe...adorei os relatos de hoje.
Bjinhus
Aeeeee!!!!
Fogos, fogos, fogos!!!!!
Simplesmente sem fôlego!! Linda a história e nada é por acaso ;)Te sigo a tempos (na moita) rs, mas hj não pude deixar de comentar.
Hurruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
esperando a continuidade
É muito interessante quando a gente se permite.
Mais interessante ainda é saber que não ferimos ninguém com isso e que o resultado, mesmo que não seja tão bom, também não nos vai ter custado mais do que uma simples tentativa.
Mesmo tendo me casado com uma "Alemoa", não sou o mais apaixonado por eles. Exceto pela Vanessa e uns dois ou três primos (estes, todos brasileiros), não curti nem um pouco o comportamento e o "gelo" deles. Quando fui para a Alemanha, fiz a mesma coisa: Andei sozinho, peguei trem, ônibus, aluguei carro, fui para lugares onde normalmente os turistas não vão.
Cheguei a ser abordado uma ou duas vezes por umas mulheres, por causa da minha cor de pele e por conseguir me comunicar bem e de uma forma mais humorada que os alemães (mesmo falando só em inglês). Para minha surpresa, descobri que as pessoas que vinham conversar comigo não eram alemãs e sim do leste europeu. Eles (os alemães), continuavam lá, enchendo a cara de cerveja e appfelweiner (um vinho de maça que eles tomam junto com a cerveja - Isso deve dar um porre desgraçado!), mas fiz questão de visitar lugares onde não houvessem turistas, principalmente brasileiros. Queria sentir como seria estar entre o povo de origem da minha esposa e... NÃO GOSTEI NEM UM POUCO!
Eles sabem tudo de engenharia, tem um país lindo e super bem organizado, mas sinceramente, a frieza deles não me motiva a voltar lá - Ao contrário da França, que assim como você, amo de paixão!
Então é isso. Permitir-se é soltar algumas amarras. É conhecer-se e deixar-se conhecer. Foi bom o que aconteceu. Estou certo de que estar livre de um sentimento de culpa é algo impagável e comemoro com você cada simples conquista.
Te amo, prima!
@RobsonCaffe
Q delicia de post...Amei..Vc poderia se chamar Carol na Alemanha rsrsrrs...
yupiiiiiiiii... a-do-rei!!! Mirys você É escritora!!! Felicidade a frente é tudo que você merece e um livro lindo é o que precisamos... bjs e bênçãos.
Aeeeeeeeeeeee
Nossa nunca li um relato com tanta vontade de chegar ao final!!!
Quero maissssss
Beijos
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE, ai que gotoso!
Estou adorando, adorando, adorando esta novela da vida real, esta redescoberta, este renascimento! Bom demais ler isso! Vou compartilhar!
#Livrojá
Ai que legal Mirys poder sentir tudo isso... estou na torcida e esperando por novos relatos. Beijos.
Que ótimo!!! MUito bom, estou amando essas histórias, contadas aos poucos mas que dá pra imaginar tudinho, como qd estamos lendo um livro. Que assim seja, um livro de amor.
beijos
Vanessa - RS
Nosssaaaaaaaaa mãeeeeee
Até que enfimmmmm!
Mas ainda estou muito muto curiosa...
Mulher tu tem dom para deixar o outro curioso sabiaaaa: rs rs rs
Bjs e deixa eu continuar correndo paralertudinho... rsrs adorei a frase da sua tia.... kkkk
Bjs
Debby :)
Mirys amo ler o seu blog,parece um livro de conto de fadas..tem drama,romance,conquistas e vitórias..eu sei q é tudo real todos os sentimentos,ações..diferente dos contos nada mais será como antes,mas poderá e será melhor;Felicidades e q Deus te abençoe + e +
Bjsssssss
como assim só hj eu descobri essa estória toda? to aqui lendo e me deliciando...vivendo suas angústias, emoções, medos e felicidade...
força sempre!!!
Beijossssssss
┌──»ʍi૮ђα ツ
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