Durante esse tempo todo de viuvez (mais de dois anos e meio depois dela, eu ainda não me acostumo com esse termo...), eu ouvi muita coisa, muita gente com "fórmulas prontas" para criação de filhos, para minha vida pessoal, para como lidar com todas as mudanças que estavam ocorrendo. Ouvi muitos "eu SEI o que você está sentindo...", "eu SEI o que você está passando...", "eu, no SEU lugar, faria tal coisa...", "você DEVE fazer isso ou não fazer aquilo porque é isso que DEVE ser feito nessas situações", "o MAIS RAZOÁVEL (ou, pior, "o CORRETO") a se fazer é...".
Mas, como saber o que é "razoável", numa situação que não tem nada de razoável??? Como usar a mesma "fórmula secreta" da felicidade e da postura em sociedade para todas as pessoas existentes no mundo, sendo que as vidas delas eram tãããão diferentes da minha? Como dizer o que alguém deve ou não fazer (realizar, desejar, sentir, querer) quando você não está vivendo a vida dela???
Pra alguns mais íntimos, com quem eu tinha mais liberdade, eu me dei ao direito de falar "não". Com todo o amor do mundo e um sorriso no rosto, eu disse: "não, você NÃO sabe o que eu estou sentindo ou passando. E não, você NÃO pode nem imaginar! E graças a Deus por isso, porque você NÃO tem que viver o que eu vivo". Algumas vezes, fui compreendida... outras vezes, não. E confesso que, até hoje, algumas pessoas ainda insistem em me dizer que eu "deveria" fazer certas coisas ou que eu deveria fazê-las de certo modo (diferente, obviamente, do que eu faço), mais normal, mais comum, mais aceito. Não as recrimino, não censuro, não me oponho... eu tento explicar a minha versão, mas só. Não espero que os outros entendam o que nem eu mesma consigo expressar... (como o fato de me sentir "casada", mesmo depois de mais de 2 anos do acidente que me deixou viúva).
Na minha visão, algumas coisas eram inabaláveis, sólidas, certas:
* eu tinha um Deus e eu Ele tinha (tem) um plano BOM pra minha vida. Melhor do que o meu. Eu creio assim.
* eu tinha (tenho) duas crianças para criar, que já tinham perdido o pai. Não seria justo, com eles, que perdessem a mãe, também, para a tristeza, para a desistência, para a auto-piedade.
* a vida é curta. É linda, é deliciosa, é complexa demais e é curta. Então, deixe claro HOJE praqueles que você se importa, que você se importa.
* não vou deixar de sentir o que eu tiver que sentir (seja felicidade ou tristeza) porque alguém me disse que ELE não faria assim. A vida é minha, o ônus e o bônus são meus! Estando dentro do que EU acho razoável, dentro da MINHA experiência de vida, se não estiver machucando ou ofendendo ninguém (filhos incluídos), eu VOU fazer.
* ninguém (a não ser que a pessoa tenha passado pela mesma experiência que eu, tão intensa, tão aterradora, tão devastadora, tão marcante) vai entender as loucuras de uma viuvez precoce.
Nada além...
PS: um dia, uma grande amiga, me ligou pra conversar um pouquinho e me contou um caso de uma moça, do prédio dela, que tinha passado pela mesma experiência do que eu. E, como sempre acontece, aqueles mais próximos a ela acabavam "julgando" as atitudes que ela tinha. Até que um dia, alguém veio comentar sobre uma atitude daquela viúva com a minha amiga. "Você não acha um absurdo???". A resposta foi brilhante: "Eu acho que o que ela passou foi insuportável, humanamente falando. A partir de agora, ela pode fazer o "absurdo" que ela quiser porque ela tem IMUNIDADE". A partir de então, sempre que eu me cobrava de alguma coisa, eu me lembrava: pra E., eu sou assim - imune! Porque a E. não precisou entender. Ela soube respeitar!
Cenas do próximo capítulo aqui.
2 comentários:
Realmente temos que aceitar e entender que cada pessoa tem sua forma de passar pelas mais variadas experiênçias...cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...
Ótima semana.
Bjinhus
Você está certíssima. E adorei a resposta da sua amiga.
A gente tem imunidade, né Mirys?
Beijos.
Postar um comentário