terça-feira, 24 de julho de 2012

Interlúdio 12 - repelente (Diário da Mirys)

O meu “prazo de validade” pra ficar sozinha já tinha dado! Eu já estava naquela fase de chorar e orar, todas as noites, depois que todos dormiam, pedindo, SE e QUANDO Deus quisesse, que eu tivesse outra pessoa.

Você já ouviu aquela piada famosa do prêmio da loteria? Que a pessoa pede e pede e torce e torce pra ganhar o prêmio acumulado e nunca ganha... até que chega alguém e pergunta “mas você joga?”. Pois é... o fato é que eu não jogava! Por causa das opções que eu tinha feito (de priorizar as crianças e o crescimento delas) e por um monte pouco de desânimo, eu confesso que ficava muuuuito em casa. Durante a semana, eu ficava em casa por motivos óbvios: não tinha ninguém pra ficar com os pequenos para que eu pudesse sair. Nos finais de semana, quando eu estava na casa dos avós das crianças e poderia deixa-los para sair, eu preferia ficar por lá, mesmo. Sempre tinha um filme pra ver, um papo pra colocar em dia, uma organização de coisas, um trabalho pra terminar, ou uma pura e simples falta de companhia (SOLTEIRA) pra sair, mesmo.

Então, eu decidi que, para não sair do jogo completamente, eu tinha que começar a agir nos lugares onde eu JÁ ia de qualquer jeito! Quem sabe aparecesse alguém no mercado, na porta da escola das crianças ou pra trocar uma lâmpada na academia só para mulheres que eu frequentava? Quem sabe?????? Podia acontecer! Improvável, mas não impossível!!!

(Um parênteses pra vocês entenderem que eu já tinha feito muuuuito progresso, nesse tempo! No começo, eu não conseguia olhar para um homem, como uma mulher. Uns 2 ou 3 meses depois do início da viuvez, uma amiga me apontou um moço de terno, todo arrumado, sentado num tribunal onde nós duas estávamos. “Mirys, olha aquilo tudo! O que você acha????” A minha resposta foi “é... ele é esteticamente harmonioso.” A minha amiga não sabia se me batia ou se morria de rir da minha brilhante resposta, dada sem um pingo de emoção na voz, como se eu analisasse a construção de um depósito de materiais para construção. “Mirys, acho que você está assexuada...”. Fecha parênteses)

E, numa noite, eu cheguei na igreja e tinha um moço lindo, no banco da frente. Eu olhei pras costas dele (não riam!!!), olhei pra metade do rosto (ele virou um pouquinho, quando eu me acomodei no banco de trás), olhei pras costas de novo e... comecei a chorar! Eu olhava praquele moço, achava que era bonito e pensava que não podia achar isso dele. E chorava. E chorava. E me forçava a olhar pras costas dele, não importava o vexame que eu desse, mas eu IA OLHAR. Parecia um daqueles desenhos animados, quando uma versão sua de anjinho e outra de diabinho ficam sentadas nos seus ombros. “Olhe!” “Não olhe!” “Olhe! Você não está fazendo nada de errado...” “Não olhe! Você é casada e mulheres casadas não desejam outros homens que não são delas!” O anjinho venceu, eu olhei pro moço e chorei até a hora em que aguentei. Quando achei que meia igreja estava olhando pra mim, eu fui embora pra casa, emocionalmente exausta.

Numa fase tão ridícula dessas, qual é a melhor coisa a se fazer? Aprender a rir de si mesma!!! E a aceitar as suas crises, os seus vexames, os seus limites. E eu comecei a tirar sarro de mim! Quando alguém me perguntava “e aí, alguém já olhou pra você?” ou “e então, alguém já veio atrás de você?”, eu respondia que não, mas que tudo bem... eu devia andar com uma plaquinha, no pescoço, mesmo, escrito “CUIDADO, VIÚVA BRAVA”, e que ninguém ia se aproximar com uma plaquinha dessas, né? As pessoas riam, eu ria, todo mundo se divertia e mais uma noite acabava. Ou então, eu respondia que eu devia usar algum tipo de repelente especial, que nem moço, nem mosca chegavam perto de mim. Riu? Eu ri! Tava sozinha, mas tava rindo!

Cenas do próximo capítulo aqui

5 comentários:

Alice Mânica disse...

Mirys, estou gostando muito dos textos dessa nova série. Claro que a "Era uma vez..." era mais "pra cima", tinha toda a expectativa de saber a história de vcs e tals.

Mas agora está sendo muito interessante ver suas reflexões sobre essa fase tão ruim e ver como vc foi superando os obstáculos.

Beijos!

Anônimo disse...

Como vc se expressa bem, escreve bem, sabe perfeitamente como entreter seus leitores.
Ansiosa para a continuidade da história.
Beijos

Tami Fonseca Sousa disse...

Mirys e agora como vc tá?Já consegue se permitir gostar de alguém?
Bjinhus

Claudia disse...

Mirys você não tem nenhuma amiga solteira ou separada? Porque essas seriam companhias legais para vc começar a sair, se distrair. Eu tenho uma amiga solteira e um dia ela falou assim meio sem querer que quando eu começar a sair no começo eu vou me sentir muito "fora da casinha".... sério escutei isso e não consegui responder. Olha só o que a vida pregou na gente, começar tudo de novo...

Rafaella disse...

Amiga, esteticamente harmonioso??? hahahahhahaha... só vc mesmo...
A da plaquinha então haha... so você mesmo...
Mas é melhor rir do que chorar ne!!!
Bjs