sexta-feira, 13 de julho de 2012

Interlúdio 3 - os meses (Diário da Mirys)

Todo mundo dizia: "é só dar tempo ao tempo", "deixe o tempo passar", "o tempo faz milagres". Mas o fato é que o tempo já tem tempo demais e eu não precisava dar nada a ele! Os dias passaram, o conjunto deles se transformava em meses, e a dor não passava. A saudade não passava. A falta de ter alguém que te conheça DESSE TANTO pra dividir a vida com você não passava...

Enfim...

Se o primeiro mês foi meio "em stand by", meio anestesiada, meio "fora da realidade", os meses seguintes foram beeeeem difíceis. Conforme a ficha caia, o dia 23 ficava mais complicado de suportar.

No quarto mês, criei coragem, voltei na casa antiga e mexi nas coisas dele. Separei, organizei, doei, resolvi! No quinto mês, eu "inventei" o nosso "Dia da Família" e a campanha "Gaste tempo com quem você ama", como uma forma de homenagem à vida alheia e como uma forma de fuga da minha própria.

E quando eu achei que o pior já tinha passado, que eu já estava subindo do fundo do poço... veio a recaída! Porque eu fazia a minha parte: ficava forte, focava nas crianças, colocava um sorriso no rosto e seguia! Mas, a vida também fazia a parte dela... e me mandava letras de músicas e mais músicas, cheiros, pessoas, sonhos (poucos, ainda bem!), demonstrações de amor na minha frente... e ficava insuportável continuar, às vezes. No sexto mês, inesperadamente, eu me vi voltando ao fundo mais fundo do poço mais profundo, onde falta tudo, sem ver como eu sairia de lá.

Só que, agora, fazia mais tempo "sem ele". Então, bateu uma vontade aguçada de tentar voltar no tempo e chegar mais perto. E eu colocava as crianças pra dormir e ficava buscando e-mails antigos, bilhetes, cartas, recados, composições antigas. Qualquer coisa, QUALQUER COISA que trouxesse o Fer e aquela sensação boa de contar com alguém pra perto de mim, de novo...

Sorte que, na segunda queda, a recuperação é mais rápida! Até porque eu não sou de me entregar muito. Não sou de tristezas, reclamações e "mi-mi-mi". Até por isso demorei mais de 2 anos para escrever tudo isso. Porque, se escrevesse no dia dos acontecimentos, eu ia passar toda aquela dor pra vocês. E ninguém merece NEM IMAGINAR como aquilo foi! Então, eu voltei pra tentativa constante de levar uma vida boa e feliz e alto astral comigo mesma, e comecei a fazer piada de mim, de novo!

Mas, chegou dezembro e, com ele, a minha segunda data preferida no ano: o Natal. Seria o primeiro sozinha. E fazer de conta que eu estava bem, o ano todo, era uma coisa... mas fingir no Natal, quando o resto do mundo está genuinamente feliz??? Era doloroso demais! Mas eu tinha que continuar. Por mim. Pelas crianças. Pelas pessoas ao meu redor.

Por uma feliz "Deuscidência" da vida, quando o acidente completou um ano, eu não estava por perto de ninguém (além do Guigo e da Nina). Então, passei um dia tranquilo, chorei um pouco a noite, bebi um vinho bom, dancei sozinha pela sala de uma casa alugada, do outro lado do mundo, e esperei pela "grande virada". Sim! Porque terminar o primeiro ano de viuvez era uma proeza e eu tinha certeza de que, como num passe de mágica, o dia seguinte ao "aniversário" seria mais azul, mais ensolarado, mais musical, mais, mais, mais. Ledo engano...

Os dias se tornaram meses, de novo. E a vida seguia seu rumo, de novo. Só que, desta vez, todas as outras pessoas ao meu redor já tinham "superado" aquela dor. As mães continuaram a ser mães. Os maridos continuaram a ser maridos. Os filhos iam muito bem, obrigada. Tinham me alertado: depois de um tempo, a vida dos outros voltaria ao normal e ninguém ia mais ficar lembrando disso 24hs por dia. Eu sentia como se eu fosse a única a ter ficado pra trás, parada no tempo, esperando por uma vida que nunca mais iria voltar. Eu nunca mais seria a esposa dele. Mas eu ainda me sentia assim....

Cenas dos próximos capítulos aqui.

10 comentários:

Nana disse...

Gente, só de ler já doi...e muito...e olha que sou de fora, hein?! Ainda bem que finalmente chegou a hora de superar e seguir em frente...e ser feliz, como ele gostaria que você fosse lindona!!! Bj e fk c Deus.

Claudia disse...

Mirys vc me descreveu..... mas eu ainda não passei pelo primeiro ano de viuvez. Eu sinto bem isso, eu olho as pessoas ao meu redor e vejo que a vida delas em nada mudou, somente eu fiquei pelo caminho.... eu não tenho planos, eu não tenho uma viajem para programar, eu não tenho mais essa cor no dia-a-dia, eu não tenho alguém para abraçar e beijar (e não adianta me dizer que outra pessoa vai aparecer, pq eu quero o meu marido).... somente quem passou por isso para saber. Beijos e força.

lili disse...

A DOR PODE ATÉ DIMINUIR, MAS AS SAUDADES...

Liliane Arend disse...

guerreira ;)
bjo
Li
londrescomfilhos.blogspot.com

Haydil disse...

Mirys, eu de novo, muito obrigada por escrever este blog, me fortalece,Deus a abençoe.

Luma Rosa disse...

Fazem dois anos que perdi a minha mãe e de certa forma, já me acostumei com a falta dela. Ela ficou doente um tempo e partiu. No entanto, uma amiga de infância morreu tragicamente em um acidente de carro e nunca superei direito essa perda que já correm por 25 anos. Acho que isso aconteceu pela inconformidade de perdermos uma pessoa saudável por uma estupidez. Não sei os detalhes da morte do seu marido, mas eu aconselho terapia, pois ajuda muito no processo - é até indicado quando o luto dura muito tempo. A terapia me ajudou muito e vamos em frente. Não deve ser bom para as crianças te ver triste. Boa semana!! Beijus,

Daniela disse...

Mirys... Não sei o q t dizer... Só estou aqui comentando pra vc saber q lí... E q sofro qdo t "ouço" assim..Deus t abençoe. Bjo.

Déa Corrêa disse...

Força, continua lutando, vai chegar um dia que esta ferida vai fechar, a saudade não passa nunca, mas você vai conseguir viver sem sofrer tanto.
Me emociono sempre que leio o seu blog.
Beijos

Renata Marques disse...

Não tem escola que ensine a lidar com isso, mas ouvir essa experiência é um aprendizado de vida.

sandra disse...

Mirys,

Olá, me chamo Sandra e tenho lido bastante seu blog,pois vivemos situações parecidas. Nossas perdas foram inesperadas. Faz 1 ano e três meses que meu amigo, companheiro, que sonhei para viver até envelhecer se foi fisicamente. Desde então perdi a perspectiva na vida. Espero que no tempo eu consiga me adaptar. Leio o que escreves e me procuro encontrar em suas palavras. Tenho também 2 filhos, que são uma força a mais na caminhada. Continue contando sua historia, que eu fico daqui tentando também aprender a reescrever a minha. Que Deus lhes abençoe.

Sandra Amaral