quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Interlúdio 20 - a primeira crise (Diário da Mirys)

Enquanto eu estava com aquele que não me conhecia de antes, do jeitinho que eu tinha exigido, eu não estava em paz. Porque conhecer as qualidades de alguém é simples, é bom, é interessante. Mas só quando se conhece e se aprende a conviver com os defeitos de outra pessoa é que se constroe um relacionamento de verdade. E se fica em paz...

Pra complicar mais, toda vez que eu ia me encontrar com o brasileiro que tinha me beijado, ou quando eu voltava de algum encontro, eu tinha que passar na frente (ou ao lado) do cemitério da cidade. Na primeira vez em que isso aconteceu, eu percebi que eu ainda não tinha muito controle sobre mim: eu passei pelo cemitério, me lembrei que tinha estado conversando + beijando outra pessoa que não meu marido, e me senti culpada. Tão culpada que eu fui chorando até chegar do outro lado da cidade, na casa dos meus pais. Na segunda vez, a mesma coisa. Na terceira vez, a mesma coisa. Na quarta vez em que eu passei em frente ao cemitério, era de dia, e eu entrei. Fui lá e “contei” pro Fer que eu estava saindo com alguém. E saí de lá tão confusa...

Mas o tempo passou e eu estava determinada a levar aquelas “saídas” adiante. Eu precisava virar essa página, eu precisava me aceitar de novo, eu precisava aceitar a minha condição: de solteira, de livre, de mulher (e não só mãe). Com o tempo, a convivência aumentou, o choro diminuiu, o fato de me relacionar com outra pessoa ficou mais leve.

Tudo ia bem, até um dia em que nós estávamos sozinhos e começou a tocar uma música que eu ouvia com o Fer. A letra era em inglês, mas eu entendia inglês. E a letra falava sobre alguém que não queria perder um segundo ao lado da pessoa escolhida porque cada segundo era precioso e não voltaria. Eu sabia daquilo, eu tinha certeza, aquela era a minha vida! E eu misturei tudo e comecei a chorar. Incontrolavelmente...

Eu chorei de soluçar, sem conseguir controlar nada, e o moço ficou lá, tentando me consolar, sem saber o que fazer. Ele percebeu que eu chorava por causa da música e por causa do Fer. Ele percebeu que era mais forte do que eu. Então, ele me abraçou e disse que não tinha problema...

E eu surtei! Como assim “não tem problema”??? Eu estou com alguém e choro por causa de outro alguém e “não tem problema”??? Tudo bem que o Fernando já tinha morrido e ninguém podia fazer nada a respeito... O mais racional seria dizer mesmo que não tinha problema e esperar minha crise passar. Mas EU não estava racional e briguei feio com ele! Eu achava um absurdo completo eu estar com um cara, chorando por causa de outro cara, e ele me dizer que “estava tudo bem”... Eu esperava um ataque de ciúmes, eu esperava frieza, eu esperava revolta do tipo ‘eu estou aqui com você e você pensando/lembrando de outro???’. Mas eu não esperava compreensão... Porque compreensão, pra mim, naquele momento, era traduzida como falta de interesse.

Eu precisei esperar quase um mês para entender que o que tinha acontecido naquela noite era estranho e difícil e complexo e inesperado e confuso e absurdo... pra nós dois.

Cenas do próximo capítulo aqui

3 comentários:

Paula Decco Frederico Franco disse...

As vezes a lógica é tão ilógica...

Claudia disse...

Que coisa em Mirys, mas não se culpe, porque quem estiver com vc vai saber que o Fer vai sempre estar dentro do seu coração.... pq um ciclo se fechou e outro está se abrindo. Beijos.

Debby disse...

Nossa mãe, agora o bicho pegou , e ai ??? rs rs por Deus sou muito, muito curiosa.

è complicado imagino eu não fiquei viuva do pai do João mas por dentro para mim matei o amor, fiquei viuva de um sentimento que eu não quero mais sentir.. Acho que até te entendo.
Bjs
Debby :)