Pois é... crianças tendem a imitar comportamentos umas das outras. Pra serem "legais". Pra entrarem "nos grupos". Pra socializar. Uma dose homeopática do que vai acontecer na adolescência, com zero revolta (ufa, ufa, ufa), mas tá lá. Alguém fez algo incomum, elas também fazem. Se o amigo do lado come ervilhas e palmitos, a tendência é que o seu filho, aquele mesmo que nuuuuuuuuuuunca come essas coisas em casa, vá acabar engolindo algumas bolinhas verdes, também, só pro amigo ver que ele também gosta. Que são "iguais". Que se identificam. Pelo mesmo motivo, você vai buscar aquela sua filha super ultra mega max tímida numa festinha "só pra crianças" e o pessoal do salão diz que nunca viu uma criança dançar tanto quanto ela!
Só que, se isso vale para o lado bom, aventureiro, desbravador da vida (ervilhas que o digam!), vale para o ruim, também. Você passa dias e dias tentando ensinar aquela letra linda, daquela música belíssima, que você ouvia desde criança, para a sua filha... e nada. Mas, em meia hora de terapia intensiva de funk, ops, digo meia hora na casa daquela coleguinha da escola sem a supervisão dos pais da pequena, sua filha já saberá cantar d-e-c-o-r o último hit da DJ (oi?) do momento. E vai saber a coreografia completa! Pre-pa-ra!
Pra minha sorte, as crianças daqui de casa sempre tiveram um espírito de liderança - mais fácil eles ensinarem coisas pros outros do que vice-versa. Pro azar deles, eles têm uma mãe "chata". Daquelas bem antiquadas, bem caretas (existe essa palavra, ainda?), que exige que seus filhos façam pedidos seguidos de "por favor", que impõe um "obrigado/a" depois de receberem uma gentileza, que não admite grosseria com os outros. Coisa bem antiga, eu sei. Quase ultrapassada. Mas, fazer o que? Foi a mãe que eles ganharam no sorteio do céu... Até imagino como foi essa definição no céu, quando as famílias eram montadas: "huuummm... onde temos uma mãe bem exigente para essas crianças?... huuummm... Há! Achei! Ali! Essas crianças vão pra Miriane!"
E, pra completar a minha versão mãe impossível, eu ainda espero obediência. Vejam quanta radicalidade e ousadia, da minha parte! Mas, aqui em casa, as coisas são assim: o "sim" significa "sim", o "não" significa "não". E eu não falo 1.453.697.402 vezes a mesma coisa. Ensino, explico, ensino, explico, ensino, explico. E, na hora do vamovê, eu ESPERO que eles se lembrem do que ensinei e expliquei.
Acontece que, quanto mais eles crescem, mais crescem seus vínculos com outras pessoas e o aprendizado sobre a vida começa a ter outros professores. E eu tive um probleminha com a Nina... Ela, que sempre foi uma menininha adorável, que já tinha deixado o chorôrô pra trás há tempos, que era bastante obediente e educada, deu pra imitar outros exemplos e "desaprendeu" o básico.
"Filha, já está na hora de dormir. Suba, coloque seu pijama, escove seus dentes, que eu já vou em 10 minutos te contar uma estória." E, quando 10 minutos depois eu subia a escada, lá estava ela, assistindo televisão, vestida da mesmíssima forma de antes, com as bactérias (ou seriam micróbios?) brincando de ciranda-cirandinha dentro da boca dela. "Helena!"
"Filha, agora é a hora de fazer sua tarefa. Pegue seu material, enquanto eu coloco a janta no forno, e venha pra mesa" era o mesmo que dizer "faça o que VOCÊ quiser, na hora em que VOCÊ quiser, porque a tarefa não é importante e ser obediente é coisa de gente boba que não tem o que fazer". E aí de mim se perguntasse "por que você ainda não pegou seu material, filha?", mesmo se fosse 50 minutos depois. Eu ouvia reclamações...
A coisa foi, foi, foi, até que não dava pra ir mais (pra frente, pelo menos, não) e eu a chamei pra uma conversa de mulher pra mulher ("maríiisaaaaaa"). "Filhota, isso não está legal. Você está se tornando uma menina desobediente e reclamona e eu não queria você assim. Cadê aquela minha filha antiga?" Falei da importância de obedecer para aprender e crescer. Falei da minha responsabilidade como mãe de criá-la (o que significa ser chata, algumas vezes). Falei da Bíblia, do que ela aprende na igreja, do meu exemplo com os avós dela (coisas que são válidas aqui em casa - talvez vocês tenham outras referências, nas suas). Falei de como nosso relacionamento era mais fácil e mais gostoso, quando ela me obedecia, a gente fazia o que tinha que fazer rapidinho e sobrava tempo pro que a gente QUERIA fazer. "Era mesmo..." Perguntei se ela gostava de ficar do lado de um amigo que só reclama e bufa pra vida. "Não. Claro que não. É chato, né mamãe?" É filha, é chato.
Conversamos na manhã do domingo, quando eu percebi que o caldo ia entornar.
E, no final do dia, quando eu estava lá fora de casa, pois tinha acabado de me despedir da avó das crianças, a Nina chegou. Abraçou a minha cintura, olhou pra cima e fez duas perguntas honestas: "E aí, mamãe, eu obedeci, hoje? Está orgulhosa de mim?" Sim e sim. Fácil, assim.
Duas semanas depois, eu ainda tenho minha filha na versão meiga, agradável e obediente por perto. Tomara que essa seja a versão 2014, 2015, 2000esempre dela. Ser mãe dá trabalho, cansa, exige paciência. Mas vale BEM a pena!!!
2 comentários:
As duas perguntas dela no final me emocionaram.
No final das contas, o que importa MESMO para nossos filhos, ainda que eles neguem isso muitas vezes durante vida, é a opinião e a aceitação dos pais.
É, ser mãe (e pai) dá muito trabalho, mas vale muuuito a pena. O retorno positivo é indescritível! :D
Parabéns pelo belo texto!
B-jão!
Eu, na hora, quase chorei! Juro. Estava tão emocionada com outras coisas... que a sinceridade e a simplicidade dela me chocaram. Vai entender essas mães!... kkk
Bjos e bênçãos.
Mirys
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